Os fonoaudiólogos que responderam ao questionário de autopercepção sobre saúde digital e IA na fonoaudiologia hospitalar são em maioria mulheres entre 41 e 50 anos, com experiência na área hospitalar entre 11 e 15 anos, com ênfase nas disfagias neurogênicas no setor privado com pós-graduação nível lato sensu específica na área e maior experiência em UTI de pacientes adultos.
O público em questão pode ter interesse no conhecimento em saúde digital pois já possui conhecimento e expertise na clínica para saber que novos métodos são necessários no manejo clínico da disfagia, que tragam maior eficiência a identificação dos riscos ao paciente e que ainda assim tragam soluções otimizadas e menos invasivas no diagnóstico e reabilitação.
Cabe ressaltar, que tal público cresceu ao longo das décadas de 1980 e 1990 e com isso, teve oportunidade de acompanhar o desenvolvimento tecnológico até a atualidade, desde os primeiros computadores pessoais, até a inteligência artificial, passando pelos smartphones e computadores pessoais de alta performance.
Talvez esta possa também ser uma motivação do grupo ao responder à pesquisa, assim como nos remete a reflexões sobre as respostas colhidas, já que, em geral, o grupo se mostra motivado e interessado em conhecer e utilizar as tecnologias disruptivas, mesmo sem conhecê-las profundamente.
Os entrevistados, em sua grande maioria, se referem usuários do Prontuário Eletrônico do Paciente e de Teleconsulta e Telemonitoramento de seus pacientes no tratamento das disfagias orofaríngeas, sendo estes recursos, começos importantes na reflexão sobre o cuidado no manejo das disfagias com o uso de tecnologias de Saúde Digital e Inteligência Artificial.
A regulamentação na primeira década deste século sobre os Prontuários Eletrônicos dos Pacientes não foi o suficiente para a implementação de sistemas robustos, baratos e eficientes em todos os níveis de saúde, seja privada ou pública, embora a maioria dos profissionais se declare usuária. Para que um sistema de prontuário seja eficiente, ele precisa sistematizar a coleta de dados do paciente de forma prática, objetiva e permitir a confecção de Dashboards de informação cruzadas para que profissionais da saúde em diversos níveis tenham acesso ao maior número de informação organizada sobre o paciente. O custo para sistemas com este tipo de suporte é muito alto e nem todas as instituições de saúde brasileiras estão preparadas adequadamente para sua utilização.
É provável que grande parte dos profissionais tenha se deparado com a teleconsulta e o telemonitoramento no período da pandemia, e foi obrigado a se adaptar às novas demandas com apoio das tecnologias para lidar com os impasses impostos pelo distanciamento social.
As barreiras da tecnologia para gerações mais longevas e populações mais carentes em nosso país, também podem ser um empecilho, além do fato do fonoaudiólogo necessitar de contato físico direto com o paciente no atendimento à pessoa disfágica. Novas abordagens indiretas e com ajuda de tecnologia se fazem necessárias para a validação de estratégias terapêuticas mais eficazes a distância.
Sobre a Inteligência Artificial, a maioria dos profissionais do setor público e privado das diversas áreas de tratamento, “já leram algo sobre o assunto, mas não souberam definir”, exceto os profissionais do setor privado que trabalham com pacientes de Câncer de Cabeça e Pescoço, que referem que “já leram sobre o assunto e sabem definir.” Talvez tais profissionais, tragam em sua prática clínica a experiência e a necessidade do conhecimento de novas técnicas cirúrgicas, incluindo cirurgias robóticas e desta forma podem ter mais acesso a informações sistematizadas sobre tecnologias disruptivas como a Inteligência Artificial.
Na verdade, os conceitos relacionados a IA se confundem com conceitos como Big Data e Machine Learning, por exemplo, visto que tais recursos, são apenas descritos em meios tecnológicos e pouco difundidos nos meios de ação de saúde, e são auto percebidos pela maioria dos profissionais como assuntos que nunca ouviram falar.
Os dados apresentados nas tabelas que referem as expectativas do fonoaudiólogo sobre o tema em questão: a maioria dos participantes encara a IA como sistemas que multiplicam a capacidade racional do ser humano em resolver problemas e automação de processos humanos repetitivos, sistemas que solucionam problemas que humanos não conseguem, que será uma grande aliada para melhorar seu trabalho, tornando-o mais eficiente, além de não acreditarem que IA poderá substituir seu trabalho ou grande parte dele, e também não poderá prejudicar o fonoaudiólogo. As afirmações escolhidas mostram o potencial positivo para uso da IA pela classe de fonoaudiólogos, visto que encaram as tecnologias disruptivas por ela representadas, como benéficas para a solução de problemas, aliadas e não competitivas com seu trabalho.
Outro conceito que os profissionais nunca ouviram falar e chama atenção pela grande divulgação e uso destes itens na vida cotidiana, diz respeito da "Internet das Coisas", termo em português que traduz literalmente o termo "Internet of Things" ou IoT. Dispositivos de IoT já estão nas casas, nos smartphones e já fazem parte do dia-a-dia de pessoas que têm acesso à tecnologia. São eles dispositivos como "Alexa", "Siri", "Ok, Google" que monitoram nossa rotina e hábitos, assim como os smartwatches que monitoram nossos sinais vitais.
O monitoramento da vida diária com o uso da tecnologia pode ser um grande aliado ao gerenciamento e manejo das disfagias orofaríngeas, como ficou evidente na literatura pesquisada (Kim et al,2020). No entanto, ainda são objetos que fazem parte da rotina de pesquisa e não estão presentes na prática clínica do fonoaudiólogo, e desta forma, isto pode ser considerado na resposta da classe sobre o conhecimento destes dispositivos e seu conceito.
Os termos mais referenciados pelos fonoaudiólogos que responderam a pergunta aberta nos falam sobre o desejo da classe em conhecer o tema. Destacamos três deles: Conhecimento, Inovação e Aprendizado. Embora os termos conhecimento e aprendizado apareçam na entrevista diretamente, o termo inovação não aparece em momento algum do questionário, o que torna o termo mais interessante para a análise.
Ao propor um questionário de autopercepção no tema, acreditamos que o fonoaudiólogo refletiu enquanto respondia sobre a importância da inovação em sua busca pelo conhecimento e aprendizado na prática clínica do manejo das disfagias. Talvez essas reflexões tenham o levado a buscar mais sobre o assunto e permitiram que, desde então, ele tenha buscado as respostas para as reflexões feitas por ele durante a execução deste questionário.
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