Ao realizar um estudo com banco de dados de paciente, a intenção foi ter a oportunidade de manipular de forma prática uma tecnologia de banco de dados retirado de prontuário eletrônico, lidar com os dados e entendê-los numa perspectiva de prognóstico e predição.
Foi realizada uma regressão logística multivariada para analisar as variáveis independentes em uma amostra de pacientes idosos disfágicos que reinternaram no período de um ano e com isso, foi possível compreender quais fatores estão associados às internações hospitalares nesta população.
Um total de 126 idosos com disfagia foram incluídos na análise, dos quais 104 (82,5%) necessitaram de reinternação. A maioria dos pacientes analisados era do sexo masculino (54,8%) e tinha mais de 80 anos (74,6%). A mediana do tempo de internação e do número de atendimentos fonoaudiológicos realizados foi de 16 dias e 10 atendimentos, respectivamente.
Aproximadamente 60% dos pacientes tiveram a primeira avaliação fonoaudiológica nas primeiras 48 horas após a admissão. Apenas 38.9% e 22.2% do total de idosos apresentam uma melhora clínica ou funcional na alta, respectivamente.
As variáveis apresentadas, o próximo passo é compreender o impacto real no desfecho reinternação.
Aqui estão algumas razões pelas quais estudar populações por meio de análises regressivas preditores de desfecho podem ser benéfico:
É importante ressaltar que a realização de uma análise estatística como a regressão logística multivariada requer uma coleta de dados cuidadosa e a escolha adequada das variáveis independentes a serem incluídas no modelo. Além disso, os resultados da análise devem ser interpretados com cautela e considerando o contexto clínico específico.
Levando em conta a população estudada, pode-se dizer que foi possível identificar como fatores de riscos extrínsecos de número menor do que 10 atendimentos fonoaudiológicos durante a internação, e intrínsecos que se caracterizam pela ausência de melhora clínica da disfagia na alta hospitalar, e a presença de doença neurológica de base foram determinantes desfecho reinternação em pacientes com mais de 60 anos.
Com base nestes dados, podemos também identificar os fatores de confusao e assim sendo, idade, sexo, presença de doença neurológica de base ou admissão por evento neurológico e ausência de melhoria clínica na alta não foram associadas à necessidade de reinternação.
Determinadas variáveis independentes de relevância, direcionamos o foco para a personalização dos cuidados, controlando os fatores que podem ser controlados e propondo políticas de ação, atenção e cuidado aos demais. Os fatores extrínsecos são aqueles que podem ser modificados pela ação do gestor da saúde. Olhando para estes dados, é possível inferir a necessidade de investimento em reabilitação fonoaudiológica em fase intra hospitalar para favorecer desfechos mais positivos, visto que um serviço de continuidade proporciona melhores resultados.
Os fatores intrínsecos são aqueles que podem ser modificados com medidas preventivas em saúde populacional e cuidados para o bem estar, qualidade de vida, alimentação saudável, atividade física e hábitos positivos para o envelhecimento, visto que em se tratando desta população, foi possível identificar a relação com doenças neurológicas, incluindo alterações cardiovasculares. Associa-se a não evolução funcional dos pacientes até o momento da alta hospitalar, com as variáveis relacionadas aos fatores intrínsecos.
Identificados os fatores relevantes para as medidas de prevenção, a gestão em nível hospitalar passa a ter uma parcela de ação menor, para que as gestões em diferentes níveis públicos assumam para si as medidas para o cuidado populacional, gerando o entendimento da relevância social deste tipo de análise, pois saber que esta população apresenta predição para reinternação hospitalar, requer medidas de prevenção primária, secundária e terciária.
O projeto piloto apresentado, apenas nos permitiu vislumbrar as possibilidades que as tecnologias disruptivas podem gerar de contribuição para o conhecimento dos fatores de risco e os fatores de confusão, a personalização dos cuidados em diversos níveis de esfera, gerando bases para políticas públicas de saúde e favorecendo o desenvolvimento da era da saúde baseada em dados: quanto maiores os dados, mais variados, mas verídicos, mais tecnologia podemos utilizar para torná-los mais valiosos e velozes.
A elaboração deste produto só foi possível mediante as reflexões trazidas pelos estudos e material apresentados, visto que trouxeram o escopo teórico e prático necessário para conhecer o referencial teórico a ser elaborado, o público a ser alcançado e o método de trabalho a ser discutido.
Acredita-se que desta forma, o fonoaudiólogo hospitalar que trabalha com difagias orofaringeas possa introduzir inovações em sua prática clínica, baseadas em evidências e com os respaldos técnicos, éticos e científicos necessários a este novo campo de ação. A criatividade do pesquisador e clínico brasileiro pode ser dinamizada pelo conhecimento de diferentes formas de uso de tecnologia na atualidade.
No Brasil, exemplos de boas práticas na área de terapias de deglutição e voz, audição e linguagem, que geram interação entre as tecnologias de ponta com soluções simples para o dia a dia do clínico e pesquisador, são encontradas nas universidades. Equipes de pesquisadores e clínicos encabeçados por fonoaudiólogos como, Dra. Rosane Sampaio, criadora do software Deglutisom, Dr. Leandro Pernambuco, que estuda o uso do acelerômetro para análise acústica da deglutição, Dra. Ingrid Gielow, que liderou a criação do site "Afinando o cérebro" que usa IA para escolher as atividades na área da audição e linguagem mais adequadas aos pacientes, e o Dr. Leonardo Lopes, que encabeça pesquisas na área de voz com aplicativos e uso de análise espectrográfica, (Costa, 2022; Enz, et al 2022; Augusto et al., 2021), são essenciais para nos servir de inspirações, permitindo ao fonoaudiólogo trilhar caminhos criativos e conquistar parcerias de sucesso para produzir tecnologia acessível e sustentável.
O impacto do produto pode ser positivamente contabilizado pela introdução de novas formas de coleta de dados com tecnologias já utilizadas pelo fonoaudiólogo como o prontuário eletrônico do paciente e a teleconsulta e telemonitoramento, como também pela inspiração para uso de novas estratégias de monitoramento frente a prática com a pessoa disfágica.
Embora as técnicas com uso de tecnologias disruptivas não sejam acessíveis e baratas, a aplicabilidade destas é possível quando o fonoaudiólogo encontra parcerias em outras áreas análogas e cria produtos e serviços com parcerias na TI, engenharia e eletrônica.
O uso do Prontuário Eletrônico do Paciente de forma mais objetiva e eficiente pode ser sugestão de aplicabilidade deste manual que pode permitir a muitos fonoaudiólogos rever sua prática nas evoluções de atendimento, tornando-a mais assertiva e direcionada a coleta de dados que sejam significativos para o entendimento sobre o contexto do paciente disfágico em situação de internação.
O produto elaborado nesta dissertação é derivado da adaptação de um conhecimento já existente e se caracteriza, então, como um produto técnico. Também pode ser considerado inovador, visto que o conhecimento é inédito e necessário para os fonoaudiólogos que trabalham com pacientes disfágicos.
Outra característica do produto elaborado, diz respeito ao alto grau de complexidade, visto que foi extremamente complexa a interação entre os atores (fonoaudiólogos hospitalares), os conhecimentos necessários (levantados na revisão integrativa) e as relações (apresentadas no estudo de caso da análise do banco de dados de pacientes internados com disfagia).
Espera-se que com este Manual e-Health em Disfagia o fonoaudiólogo brasileiro encontre meios e inspirações para transformar sua prática clínica contribuindo para o surgimento da Fonoaudiologia de Precisão, onde dados coletados em estudos multicêntricos, com o uso de tecnologias disruptivas diversas, possam gerar valor ao manejo de pessoas com disfagias orofaríngeas, revertendo a estes os melhores resultados, mais saúde e melhores desfechos clínicos e funcionais e que compreenda sua responsabilidade social diante das transformações tecnológicas da atualidade, entendendo a Fonoaudiologia não como a profissão do futuro e sim, como a profissão do agora, se fazendo presente nesta transição da saúde baseada em evidências para a saúde baseada em dados.
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